quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Kerouac e um Whisky Duplo

Agora é altura das luzes se apagarem, da minha luz se apagar.



Estou de pé no limite da ponte. Chove. Os carros que passam à minha beira não me vêem por entre o nevoeiro, mas consigo vislumbrar as luzes vermelhas e brancas, para cá e para lá, uma penumbra da sociedade decadente. Entre a minha mão fechada, está uma garrafa de Daniels, vazia. Era de esperar que os meus fantasmas se evaporassem como o álcool, ao invés, ficaram lá como num gulag. Desligo o meu telemóvel e atiro-o ao rio. Por esta altura, já deve estar a chegar ao mar, mas certamente terá ficado preso numa rocha ou numa das margens, uma parecença inevitável entre os meus pesadelos e a minha vida, onde eu estou preso numa das margens e a corrente é tão forte que não me deixa nadar até aquele sabor de liberdade, com o seu característico amor explosivo como mil bombas, o rio não me deixa chegar a ti. Tento manter o meu equilíbrio, mas o meu estado de inebriação deixa-me pendurado no limbo, tal como se estivesse a dançar em gelo fino. Por falar em gelo, ainda me lembro de ti no último natal, os teus olhos brilhavam como nunca... Contudo, a pessoa com quem mais me identifico agora não és tu, mas sim, Sísifo. A minha carreira como a sua pedra, ora era empurrada até ao topo, ora era completamente destruída e tinha     que começar do nada. O pensamento da possibilidade de ser bem sucedido atravessa-me. Agora a vontade de saltar é mais ardente do que todos os sóis do universo.

Bem, deve ser a minha vez de renascer, mas por agora é altura das luzes se apagarem, da minha luz se apagar.


Esta é a minha carta de mim para ti, meu amor.

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