sexta-feira, 16 de agosto de 2013

"Uma Família Feliz"

Ainda levemente atordoado acordo, a minha namorada ainda dorme junto a mim. O sol matinal acaricia-lhe a cara conferindo-lhe um brilho angelical, perfeito. Vou à janela e exponho-me totalmente aos elementos numa tentativa de encontrar as pombas brancas da paz interna. Com tudo o que a Natureza me deu, não podia ter pedido melhor, uma casa grande, muito dinheiro e uma família feliz. Não me lembro muito dos meus pais, contudo, devido ao acidente que eles tiveram quando eu era pequeno. 

Os meus tios, que a partir daí tomaram conta de mim, disseram-me que a minha mãe era anestesista e o meu pai trabalhava numa loja de bebidas e éramos a família mais feliz do mundo até que tiveram o acidente e os médicos se enganaram no anestésico e morreram os dois, pela cruel ironia do destino. O meu irmão é bombeiro e por isso toda a gente tem o maior orgulho na maneira que  ele utiliza a mangueira, com todos os seu colegas do departamento, que fica junto da esquadra de polícia. O meu filho, ainda menininho é o rapaz mais popular da escola. Tem tantos amigos, mas o problema dele é que nunca os convida cá para casa para brincarem juntos porque, de todos os amigos dele só cá esteve o Sónio, que é um miúdo mudo de quem o meu filho gosta bastante... Já os ouvi bastantes vezes a brincar lá no quarto dele e parecem divertir-se de verdade. A minha namorada é o meu mundo. Ela é a representante de várias marcas de medicamentos e vende-os às farmácias locais, trabalhando primeiramente com a farmácia do centro da cidade em que só está lá um senhor idoso vinte e quatro sobre vinte e quatro horas a atender pedidos. No Natal ela faz sempre voluntariado e vai a casa de diversas pessoas entregar presentes e é a coisa que menos gosto sobre ela, porque não raramente sai de manhã e só chega na manhã do dia seguinte, cansada e com umas olheiras enormes. A irmã da minha namorada é a minha melhor amiga, a seguir à minha namorada. Em todas as vezes que ela sai e só chega de manhã, posso telefonar-lhe a meio da noite e ela vem, sem hesitar, e ficamos a conversar por horas sobre tudo, desde o futuro até ao seu problema com o peso. Por último, há o nosso cãozito, que é bastante energético, mas tem bastante medo às pessoas. Nós encontramo-lo na rua e ainda não sabemos de que raça ele é mas eu diria que é parente dos Chihuahuas, porque é mais pequeno do que um cão dessa raça. Recentemente ele arranjou uma namorada e andam todos felizes da vida, constantemente a correr, sem se separarem. 

Já eu, sou um simples empresário que investiu numa empresa de reciclagem e ficou rico devido aos avanços do tempo. Estou quase a chegar ao emprego até que passo pelo escritório da minha amiga Vera, ou Vérita, como gosta de ser chamada. Ela é psiquiatra. Sinto uma sensação bastante sinistra ao passar por este edifício e lembro-me do quanto gosto de jogar ao faz de conta.

Sem comentários:

Enviar um comentário