sábado, 21 de maio de 2011

Não

Falta-me o ar para to dizer
Faltam-me forças para to fazer querer
Falta-me tudo, não sei que fazer
Falta-me a minha razão de ser.

Evitas-me e foges para longe de mim
Fazes-me ir atrás neste mundo sem fim
Perco-me depois quando regresso a mim
Não posso mais continuar assim.

Dizem-me que o amor o é, sem uma razão
Dizem-me que o amor nos conquista o coração
Dizem-me que a chama se acende com a paixão
Dizem-me que sim, mas eu digo que não.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Não há nuvens no céu

Ontem estive à chuva. Enquanto estava à tua espera deitado no asfalto fui colhendo as vozes de quem se apressava para o trabalho com esperança de subir na vida. Dei conta que os subúrbios, por mais que pareçam nunca poderão ser tão felizes como o campo. Talvez reine a falsa felicidade, aquela que não está entranhada nas pessoas. Na minha mente estava à espera que me fosses acordar, que me beijasses como não houvesse amanhã. Não há desculpas para que eu te desculpe, se fosses mais devagar, tudo estava parado, consumado. Se me visse a elevar no alto, toda a minha vida a teus pés. Como querias que eu, de qualquer modo, não me visse ao espelho e desse conta que a vida é uma fantasia, um holograma? Se deixares o sol brilhar, talvez a tua sombra deixe de te seguir e se me largares talvez te encontres a ti, por que caminhos vais. Gosto de olhar fixamente para o vazio, senti-lo a corroer-me a alma, a sua simplicidade e a sua capacidade de intrigar os homens. Uma bela utopia, o infinito. De todas as utopias que dão asas os homens, o infinito é a que me agrada mais, talvez pelo seu mistério, talvez pelo seu brilho. Malícia passa suavemente através dos meus olhos, quando tento agarrar a andorinha cinzenta que faz o ninho no topo da montanha. Tal como eu previ, vi a vida e a morte do pássaro passar-me diante dos olhos. O eco da vida soa-me entre os ouvidos. A garantia de uma manhã mais suave percorre-me as veias. A garantia de que o sol voltará a nascer não existe. Se o temo? Não.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Refúgio Nocturno

São 22:45. Perdi a noção do tempo desde que me sentei. De vez em quando lá chamo o empregado para lhe pedir mais uma imperial. Pelos vistos já foram quatro e já sinto o efeito do álcool. Não sei o que me trouxe aqui, mas sei que aqui estou bem. Encontro aqui um refúgio da minha rotina, a mesma rotina desde há muito. O mar em frente sorri-me e tranquiliza-me. Esvazia-me a alma com cada onda que bate na areia, com cada estrondo que faz. Sinto-me bem. A minha paz é apenas perturbada por um grupo de estudantes que acaba de se sentar a meu lado. Tento abstrair-me, porém não consigo. Capta a minha atenção uma rapariga loira, bonita, com olhos grandes e verdes. Tem vestida uma túnica branca e calças de ganga. Roupa de jovem, penso eu. Por um momento os nossos olhares cruzam-se, mas rapidamente ela desvia o olhar voltando a sua atenção para o grupo. Suspiro. Tiro mais um cigarro do meu maço para acompanhar a cerveja. Pergunto-me se a minha vida teria sido diferente se tivesse mulher. Talvez sim, talvez não. Provavelmente estaria neste preciso momento a tentar ligar-me, a perguntar-me por onde ando eu a estas horas tão tardias, ou se não lhe devo uma explicação. Pensado bem, estou melhor assim.
Já são 23:27. Desfruto deste momento a sós com a minha consciência. Faço-lhe perguntas e ela responde-me. Perguntas sem nexo, questões que me atormentam, qualquer coisa que me venha à memória. Pergunto e respondo, como se de um jogo se tratasse. E no fim de contas não é o que esta vida é? Um jogo constante em que somos o principal jogador. Jogamos optando e negando certas coisas. Jogamos a nosso favor ou a favor dos outros. Com objectivo ou sem objectivo. Apenas jogamos. Meros piões num jogo sem regras definidas em que quem as dita é o próprio. Volto-me de novo para o mar. Não distingo o painel negro do céu do manto azul escuro da àgua. Não vejo nada. Não me diz nada. Nada.
Sinto-me preparado para me erguer, sair daqui e ir para outro lado em que os meus pulmões se encham de ar fresco e revitalizador. Preciso de uma mudança na minha vida, um novo rumo, um novo sentido. Sigo em direcção à porta sem olhar para trás para a loira bonita. Sinto-me confiante. Um sorriço nasce-me no rosto e saio para a noite.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Rodopio Frenético

Sinto esta dor dilacerante tento fugir,
mas a dor mostra-se constante.
Que rodopio à minha volta! Tento dormir,
mas a vida dá voltas e revoltas.
Tento escapar mas não tenho pernas para andar.

Os caçadores de sonhos vão me apanhar
Ofegante tento mudar de rumo,
mas em todas as direcções,
o abismo,
sozinho e profundo.

Que sinfonia esta, uma orquestra de metais
ecoa na minha cabeça.
O velho permanece sentado na cadeira de baloiço,
observando-me a dormir enquanto eu caio,
atordoado.

Um corropio de cores me invade o olhos,
ardentes como a chama do dragão.
Num rodopio frenético surgem aqui e ali
memórias de como seria a vida futura,
sem maldade nem ingenuidade.

Vejo agora tudo branco, o mundo como ele é
finalmente, deixo bater a insónia de me sentir vivo!
Tal é o sofrimento, que penso tomar,
o veneno que daqui me irá levar.
E no mesmo instante o velho me vê a acordar.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A catarse da simplicidade

Os instrumentos do homem que causam dor atroz
Pela necessidade malévola do nosso enorme ego
e da nossa infalível impotência,
não mais nos sentiremos sós.

A desilusão se forma na minha mente.
Sinto uma agonia terrível, que não é de gente,
ao saber que faço parte desta sociedade
de tremendo escárnio, da qual não sinto bondade.

O eremita da montanha me disse um dia,
por vezes as mais belas coisas
nos mais simples lugares se encontram
quer seja numa gota d'oceano, quer numa gota d'universo.