quinta-feira, 24 de julho de 2014

41 minutos

02:49.
A tempestade faz-se abater sobre as débeis paredes da habitação. As janelas estremecem a cada rajada de vento e a chuva, essa não cessa. É esta a banda sonora de mais uma noite de insónia.

02:53.
Algo se passa. Sei o que é, apenas não tenciono admiti-lo. Não tão depressa, não agora.
Tremo. Os tremores intensificam-se e dificultam a escrita. Debato-me para levar as palavras da mente para a folha em branco. Não será em vão este meu esforço.

02:56.
A divisão encontra-se fria, é certo, contudo não é isso que me faz tremer. A dor de cabeça intensifica-se à medida que o temporal aumenta, atingindo o seu clímax. Se o mundo fosse um palco, eu estaria no centro, sozinho e imundo, agarrado a mim mesmo tentando suportar o peso de tudo. Mas não se passa assim. A vida não é uma peça de teatro e eu não sou nenhum actor.

03:01.
As palavras escapam-se por entre o turbilhão de pensamentos. Respiro fundo e olho o vazio.

03:05.
Pergunto-me pelo sono e pelo que o terá afugentado. No fundo, sei-o. Mas nem sempre o verdadeiro sentimento vem ao de cima, mesmo quando a razão aí mora. E a razão aqui morava.

03:11.
Fecho os olhos e tento afugentar os demónios que não partem nunca, e fazem questão de ficar. Algo os alimenta e os mantém à deriva no mar que é a minha mente.

03:20.
Nada a dizer. Estou apenas ainda mais desperto e não me sinto capaz de exprimir seja o que for. Se calhar não devia ser como sou. Não devia pressentir certos acontecimentos... Devia-me manter na minha humilde ignorância ao invés do meu inquieto sofrimento. Mesmo que não exista motivo algum de sofrimento, eu sofro em silêncio, como bom sofredor que sou.

03:27.
Não creio que este 'texto' resulte em algo, contudo, estou chateado e talvez isto me acalme. Não sei bem se o que escrevo agora fará sentido amanhã, ou se alguma vez fez sentido. Estou revoltado com o mundo e com a hipocrisia mundana. Quem me dera ser um albatroz ou algo do género...

03:30.
A tempestade parece ter parado. Pelo menos não parece estar a haver nenhum motim de Deuses lá fora. Dormirei mais descansado (penso eu, mesmo sabendo que tal acontecimento é improvável).

Sem comentários:

Enviar um comentário