segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Movimento Inerte

Quando estamos vivos, a morte está perto, quando mortos estamos nada mais resta senão a ceifa.

Noite chega e o sorriso delineado sobre o branco do Luar, esperará a mudança? As mentalidades frias e cruéis que nos consomem a alma e nos remoem por dentro faltarão após a transição do Luar para o Astro. Sentir-me ia errado se um dia, depois da natural deliberação de me sentir, ou não, desalinhado com o mundo, me corroesse pelo veneno do dia-a-dia? Provavelmente não, mas, considerando que, à luz da Lua, a nossa alma aparece nua, com toda a sua pluma branca dançando por entre as árvores de uma floresta que cedo o deixará de o ser, para dar lugar à Luz, então sim, talvez aí! Talvez nessa altura a pena fuja e levante voo, talvez a pena se despenhe perto do curso de um rio, talvez de um mar, e aí fique a flutuar, por eternos tempos passados, lânguida e, ao mesmo tempo, desejosa de sair da água, sem capacidade de actuar. Já o velho ancião dizia às suas inimagináveis e inigualáveis folhas de nenúfar: "Hoje será o dia! Hoje! Cantai comigo ó magníficas folhas da vida, vós que pairais nos rios, inertes, tal como o tempo que passa! Inertes, tal como o mundo se encontra!". 

Com medo da sabedoria, ou talvez da insanidade, o plebeu aguarda, tranquilo, pela passagem do mundo.