terça-feira, 27 de março de 2012

O comboio sem hora de chegada

Não sei que horas serão, sei apenas vagamente onde me encontro. A estação encontra-se deserta e apenas o vento oferece alguma vida ao local. Estou encostado a um pilar enquanto exploro os recantos mais longínquos da minha memória. Perco-me neste turbilhão de sentimentos felizes e infelizes que caracterizam a vida de cada um... Mas sinto-me exausto. O cansaço, esse sinto-o até aos ossos e desfaleço a pouco e pouco. O meu corpo adormece e os meus olhos fecham-se lentamente, transportando-me para outras dimensões e realidades. Liberto-me da prisão de ter um corpo e sonho o mais improvável dos sonhos.

A sala sem janelas parece encolher cada vez que inspiro. Sinto-me em pânico. Percorro com o olhar este inóspito local e deparo-me com algo invulgar: um relógio de pêndulo ocupando parte da parede mais distante da sala. Tento erguer-me para o observar mais de perto, mas em vão, e aos poucos o som deste apaga o silêncio que antes existira. O Tiq Taq repetitivo do relógio vai gradualmente aumentando de intensidade até que se torna num ruído quase irritante. Torna-se agora numa sinfonia infernal de onde já não consigo distinguir os intervenientes. Encolho-me ao máximo. O máximo que o meu débil corpo me permite e levo as mãos aos ouvidos. Tapo-os com todas as forças que me restam e fecho os olhos, tentando bloquear todos os meus sentidos aos diversos ruídos que me envolvem. E... o barulho dá de novo lugar ao silêncio e paz que caracterizava inicialmente o lugar. Sinto-me leve desta vez, quase a levitar ignorando todas as leis da Física. "Que terá acontecido?", questiono-me eu mentalmente não esperando obter qualquer tipo de resposta. Sinto-me confiante e abro de novo os olhos.

Regresso à minha realidade. As minhas mãos húmidas agarram a mochila que antes trazia às costas e volto a inspirar, enchendo os pulmões de ar fresco e limpo. Recordo-me a custo do sonho que presenciara momentos atrás, mas já me sinto calmo. Uma calma estranha é certo, mas no fundo não deixa de ser calma. Levanto-me energicamente e volto a olhar em volta. Tudo deserto como antes. Apenas o vento assobia insistentemente nesta paisagem tão bela como enigmática. O relógio da estação parado literalmente no tempo, descansa sem pressas junto à porta da estação.
Está na hora. Sei que sou apenas mais um caminhante sem destino, à procura de sinais para a minha vida, mas a leveza de espírito que agora levo dá-me um novo alento. E assim sigo pelos carris, outrora a estrada de grandes comboios, mas que agora são apenas a minha estrada. Despeço-me assim, de cabeça erguida, e de encontro a novas paragens.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Folhas Mortas

Nos meus olhos, a miséria. Tenho a vida repleta do teu perfume. Queria-to dizer, mas a chance de haver sol é magra. Um buraco negro invade a minha alma, que aperto no coração. A tua malícia levou a minha vida como se da Morte se tratasse. A vil miséria afoga-me o orgulho, o teu encanto afoga-se dentro da minha cabeça. Tento pensar em ti enquanto posso, mas a dor de seguir em frente não mo permite. Às vezes esboço um sorriso quando invades o meu pensamento. Às vezes culpo o Destino por não ter permitido a nossa união. O Universo podia ter re-arranjado os padrões da vida de forma a ficarmos juntos. Eu quero rebentar com o mundo, dizer a toda gente as notícias. Diz-me tu se é sentido esse teu olhar subtil, mas profundo. Esta ânsia mata-me. Espero só que a química esteja certa. Hoje vou pensar em ti até adormecer.